segunda-feira, 7 de junho de 2010

Reportagem sobre Cão de Gado Transmontano




Nos últimos quatro anos, os ataques de lobo em cinco concelhos de Trás-os-Montes diminuiu para metade. Mas o número de alcateias mantém-se estável. No Terra Alerta de hoje, vamos conhecer um projecto de conservação do lobo baseado no apuramento de uma raça de cão autóctone: o Cão de Gado Transmontano.

Em Zeive, na freguesia de Parâmio, Bragança, vê-se ao longe o rebanho de Humberto Figueiredo. O último pastor da aldeia não tem medo de pastar o gado longe das casas. As ovelhas de raça Churra Galega Bragançana pastam no souto, o restolho da castanha. À volta das ovelhas, vários cães dão cor ao rebanho. Uns servem para conduzir o gado, outros para o defender de eventuais ataques de lobo. São esses, os defensores do rebanho, que se destacam pela corpulência e porte imponente. Quatro adultos e vários cachorros da raça Cão de Gado Transmontano, usados tradicionalmente na protecção dos rebanhos no Nordeste de Trás-os-Montes. Calmos e dóceis os adultos; brincalhões os cachorros que hão-de aprender a afugentar os lobos.

O lobo está classificado em Portugal como espécie em perigo. É proibido o seu abate ou captura, e o Estado assume a responsabilidade de indemnizar os cidadãos directamente prejudicados pela acção do lobo, desde que os rebanhos estejam guardados por pastores e com um cão por cada 50 cabeças de gado. Mas a lei não define o porte nem a raça do cão.

Ao verificar que, quando os rebanhos estão bem protegidos por cães de tipo mastim, há menos ataques de lobo e menor mortalidade de gado, o Parque Natural de Montesinho lançou em 1994 o projecto do Cão de Gado Transmontano. A ideia foi fazer o apuramento de uma raça autóctone, usada tradicionalmente na protecção dos rebanhos, e distribuir gratuitamente cachorros da raça Cão de Gado Transmontano em rebanhos do Nordeste de Trás-os-Montes sem protecção adequada.

Com este projecto o Parque pretendeu diminuir os ataques de lobo, reduzir o valor das indemnizações a pagar pelo Estado, e ao mesmo tempo, criar um rendimento complementar para os pastores que aderem ao projecto, tornando-se também criadores de cães desta raça. Em cada ninhada, o Parque compra sempre um ou dois cachorros para entregar a pastores do nordeste transmontano que não tenham cães tão bons para guardar o rebanho. Os outros cachorros podem ser vendidos pelo pastor-criador para fora da região. Pela receita que gera, numa região deprimida do interior, o projecto é encarado de forma muito positiva pelos pastores que começam a ver o lobo com menos hostilidade.

Estima-se que existam 20 alcateias no distrito de Bragança, o que corresponde a 1/3 da população nacional. As notícias de ataques ainda são muito frequentes, mas o aumento do número de cães de gado nos rebanhos parece estar a contribuir para a diminuição dos danos provocados por lobos. Nos últimos 4 anos, diminui para metade o prejuízo causado por lobos nos concelhos de Bragança, Vinhais, Vimioso, Macedo de Cavaleiros e Mirandela. Desde 2005, o parque já deu mais de 350 cachorros e tem uma lista de espera de cerca de 50 pastores.

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