Na Península Ibérica existem, há cerca de 4000 anos, tribos que assentavam na pastorícia a sua fonte de subsistência. Na defesa dos rebanhos contra outras tribos e predadores utilizavam cães de grande porte e valentia, trazidos da Ásia menor. As deslocações temporárias dos rebanhos na Península Ibérica (Transumância) conforme as estações do ano, levou à dispersão e ficção desses cães nas várias regiões, criando raças diferentes se as regiões eram distintas, bem delimitadas e isoladas por grandes rios ou montanhas inóspitas.
A origem do Cão de Gado Transmontano está ligada à origem dos restantes mastins portugueses, apresentando, até, algumas semelhanças com o Cão Serra da Estrela pelo curto e com o Rafeiro do Alentejo.
As regiões de Trás-os-Montes, Serra da Estrela e Alentejo são caracterizadas por um clima austero do tipo continental (nove meses de inverno e três de inferno). É natural que em climas semelhantes e em regiões próximas estes três tipos de mastins portugueses fossem evoluindo com características muito parecidas.
As diferenças morfológicas e funcionais das três raças devem-se ao tipo de relevo e à presença ou não de predadores (lobo) nas suas regiões. Em Trás-os-Montes e na Serra das Estrela fixaram-se cães de grande porte e valentes, com uma maior agilidade, leveza e desenvoltura, porque as acidentadas paisagens e o lobo assim o determinam, outros igualmente de grande porte e valentes, mais pesados e de forte presença estabeleceram-se no Alentejo.
Nas décadas de 70 e 80 devido á diminuição drástica do número de lobos e devido ao abandono da pastorícia de grande parte das gentes de Trás-os-Montes, que nesta altura migrava para o litoral do país ou para o estrangeiro á procura de melhores possibilidades de vida, o Cão de Gado Transmontano deixa de ser útil e cai no esquecimento ficando perto da extinção.
Da conservação do lobo ao reconhecimento de uma raça
Em Portugal o Lobo é considerado espécie em vias de extinção desde 1988. A partir dessa data o lobo deixa de ser perseguido e para a maioria dos transmontanos passa até a ser um símbolo da conservação da natureza.
A gestão e conservação de populações de lobo é sempre uma tarefa difícil, sobretudo quando estas existem em meios muito humanizados. Apesar de não atacar o homem, o lobo é um predador que gera conflitos essencialmente pelos ataques, mais ou menos regulares, que fazem a animais domésticos, produzindo estragos, por vezes, elevados. Reconhecendo que é impossível eliminar os lobos que causam prejuízos, Portugal, em 1990, desenvolve um mecanismo e visa resolver de forma eficaz os conflitos gerados pelo lobo. Este mecanismo baseia-se no pagamento, por parte das entidades estatais, dos prejuízos provocados pelo lobo. Este método trouxe os seus resultados, mas não era totalmente eficaz devido à demora de todo o processo.
Foi então que no decorrer de vários trabalhos realizados pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN) no nordeste de Trás-os-Montes, no âmbito da conservação do lobo, observou-se que a existência de cães de grande porte era bastante frequente em algumas zonas, e que estes estavam na origem da ausência ou diminuição de ataques a alguns rebanhos. Rebanhos contíguos a estes, e que não tinham destes cães eram frequentemente atacados.
Desta forma, em 1994, deu-se inicio ao programa que levou ao reconhecimento da raça Cão de Gado Transmontano. Numa primeira fase foi feito um levantamento dos cães existentes e das cadelas que poderiam fornecer ninhadas. De seguida fez-se o levantamento dos proprietários interessados em ter cães deste tipo nos seus rebanhos, elaborando uma lista de espera. Embora o Programa Cão de Gado Transmontano tenha sofrido várias melhorias, este processou-se, mais ou menos desde o inicio, da seguinte forma. Nos primeiros dias o pastor dá conhecimento do nascimento da ninhada e aí inicia-se o fornecimento gratuito de ração para a cadela e ninhada. Faz também parte do programa a desparasitação dos cachorros a cada 15 dias, assim como a sua vacinação e micro-chipagem às 8 semanas. Com 10 semanas de idade os cachorros são entregues aos novos proprietários e duas semanas mais tarde dá-se o reforço da vacina. Este é o último passo do programa, embora os cães sejam permanentemente acompanhados pelos responsáveis do programa. Em caso do abandono da pastorícia por parte do proprietário, o cão é devolvido ao programa e reconduzido para um novo rebanho.
Desde o inicio do Programa de Cão de Gado Transmontano os ataques de lobo, na zona do nordeste trasmontano diminuíram de 450 para 200 por ano, embora as alcateias se mantenham estáveis, e o valor das indemnizações pagas devido a ataques de lobos caíram de 70000€ para 20000€.
Ao mesmo tempo que este programa ia sendo implementado, deu-se início a concursos de Cão de Gado Transmontano para melhor divulgar, entre pastores, as características da raça e a sua utilidade. O primeiro concurso teve lugar um 1996 e contou com 20 participantes, em 1998 eram já 70 participantes, tendo-se mantido até á data na ordem dos 60/70 cães por concurso.
É desta forma que o Parque Natural do Montesinho, ao aplicar uma simples medida de colocação de cães de guarda em rebanhos, para a conservação do lobo, contribui para que no dia 5 de Abril de 2004 o Cão de Gado Transmontano fosse reconhecido como a nona raça de cães Portuguesa.
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